quinta-feira, 29 de março de 2012

ALIENIGENIDADE

Posto aqui, para reflexão de todos, o excelente texto do Amigo ANDERSON MIRESKI.
Dá-lhe, Mireski!
Brilhante como sempre.
Concordo em gênero, número e grau.

Peço desculpas pelo desabafo.
É que eu estava precisando.
 
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

Interessante essa reflexão de Rui Barbosa, que li não lembro onde, há alguns anos. Porém, jamais imaginei que ela cairia como uma luva ante a silenciosa e sufocante aflição na qual me encontro: há algum tempo já, a linguagem “virtual” vem desconstruindo a língua, “emburrecendo“ as pessoas cada vez mais cedo; as crianças, antes mesmo da escola, já absorvem uma linguagem que o professor vai ter que desconstruir (ou, deveria).
Mais esse papel cabe às nossas escolas: “desensinar” primeiro, pra depois começar a ensinar.
Pois bem... não bastasse isso, basta ligar o radio, a televisão, às vezes nem precisa – é só sair pra rua que, logo aparecem meia dúzia de auto-falantes carregando um carro no colo pra colocar goela abaixo (ou tímpanos abaixo) tudo isso que, curiosamente, chamam de sertanejo universitário.
Não sei se me inquieta ou me petrifica ver um país inteiro cantando e idolatrando músicas como “Le Le Le” (deve ser esse o nome da música, pois é basicamente o que diz a letra); chega a me doer ver uma geração que carrega consigo pra onde for um turbilhão de músicas com linguagem baixa, vulgar, com frases e melodias cada vez mais iguais, e letras que trazem em uma “estrofe” termos que, provavelmente, o “poeta” que as fez desconhece, pois contradiz toda a “mensagem” que carregava a “estrofe” anterior.
É duro ver no “Domingão” o público aplaudir em pé, perplexo, admirado, quando o “poeta” confessa que levou menos de cinco minutos para fazer tais “obras”.
É duro ver que são essas “idéias” que balizam e são referência pra geração “universitária”.
É complicado ver que também a música atual está contribuindo, e muito, para esse “emburrecimento” em massa. A impressão que tenho, é que as pessoas hoje acreditam que é o sertanejo “universitário” o “X” da questão: que é através dele que se manifesta tudo o que se sente (tudo sim, inclusive o amor – meu Deus!!! O Gustavo Lima inventou o amor!!!).
Mas, me pergunto: se sente o que??? Será que só eu, em minha rabugice, não consigo sentir absolutamente nada perante todo esse monte de... nada???
Em completa “alienigenidade”!!! É assim que me sinto, às vezes. Fico meio constrangido perante meus dedos quando vou escrever qualquer coisa no idioma e da forma que aprendi.
Fico sem jeito quando pego o violão e toco qualquer música que, acredito eu, carrega algum conteúdo.
E, amigos, honestamente, de tudo, isso é o que dói mais. 

Anderson Mireski

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