terça-feira, 7 de junho de 2011

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Caros Amigos!
Este texto de Mário de Andrade foi produzido no século passado.
É de uma riqueza ímpar e sintetiza muito do que penso em relação à vida e à maneira de vivê-la.
Recebi de um amigo muito especial e, dada à profundidade e beleza, resolvi compartilhá-lo com vocês.
Deleitem-se com esta mensagem linda e incrivelmente atual,
apesar de escrita há tantos anos.

O Valioso Tempo dos Maduros
Autoria: Mário de Andrade
(1893-1945)
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,  caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, o essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!

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