terça-feira, 24 de maio de 2011

A PRESENÇA DOS AUSENTES

O grande amigo Dr. Ruy Gessinger, bondosamente, sempre "alardeia" que sou bastante voltado à temática "família" em meus trabalhos. Embora concorde com tal afirmativa, retruco que isso não é intencional: é algo instintivo, sem planejamento prévio. Quando me dou por conta, lá estou eu escrevendo sobre o dia a dia de pais e filhos, filhos e pais, avós e netos e assim por diante. Talvez essa tendência tenha origens subjetivas no fato de eu ter ficado órfão de pai precocemente e, de certo modo, tente suprir tal carência discorrendo sobre esses temas. Este trabalho que selecionei para vocês traz um pouco dessa temática. O Poema virou música na parceria melódica do meu Compadre NILTON FERREIRA, que também interpretou a Canção no Palco do REPONTE DA CANÇÃO, em São Lourenço do Sul, anos atrás. A Canção "A Presença dos Ausentes" foi premiada com o 2º Lugar naquele grande evento.  

 

A PRESENÇA DOS AUSENTES

                                                   Nenito Sarturi         

Às vezes, silente, me encontro
Olhando o vazio – sem razão –
Por outras me paro, escorado,
Na concha espalmada da mão.
E quando meu filho, rebelde,
Retruca a uma ordem que dei
Percebo a presença dos “velhos”
Nos dons e trejeitos que herdei.

Rebusco, no breu da lembrança,
Meu pai na tropeada ou na esquila
Alçando a perna – pachola –
Pra o baile ou festa na vila.
Revejo mamãe – resmungando –
Em cada conselho que dou
E sinto que fui me moldando
Na forja de quem me gerou.

         É bom perceber a presença
Dos velhos no meio de nós,
Saber donde viemos é ciência
Que ajuda a “remar” até a “foz”
Por isso enraizo a existência
No exemplo dos pais e avós.

         Nos traços do antigo retrato
A bruma do tempo se esvai
As cores, em minhas retinas,
Refletem o olhar de meu pai.
         E, afora o semblante marcado,
Com rugas que a fé escondeu,
Mamãe nem percebe as mudanças,
- Nem nota que o filho cresceu.

Um dia o meu filho – sisudo –
Olhando meu neto que cresce,
Por certo verá que nem tudo
Definha, sucumbe ou fenece:
Tateando sua barba tordilha,
         A vida escorrendo entre as mãos,
Verá a esperança pulsando
Sabendo que não foi em vão.

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