Aprecio a cultura dos nossos países "lindeiros".
Admiro o sentimento de nacionalismo que os demais países latino-americanos demonstram.
Mas, apesar de todas as mazelas, tenho orgulho do nosso país e, principalmente do nosso Rio Grande do Sul.
Viajar é gostoso, acrescenta conhecimentos, soma experiências.
Mas nada é melhor do que voltar às nossas ORIGENS.
Posto hoje um Poema que escrevi há algum tempo, e que foi classificado no Bivaque da Poesia Gaúcha, na cidade de Campo Bom, que traz justamente esta mensagem de amor às nossas raízes e orgulho das nossas ORIGENS.
ORIGENS
Nenito Sarturi
Eu poderia ter nascido longe,
do outro lado do vasto oceano,
nas savanas da África Central,
no tórrido deserto do Saara
ou nos confins do Continente Austral.
Ter vindo ao mundo na terra dos monges...
Lá no Tibet, na China, na Mongólia,
num lindo dia do Leste Europeu,
sob a brisa de um Mar Egeu
ou nas planícies de uma Patagônia.
Talvez pudesse ser acalentado
entre as begônias da Mesopotâmia.
Talvez pudesse ter crescido livre
na amplidão dos Montes Apalaches,
ser um pagé em uma tribo Apache,
ser um cacique entre os Astecas,
ou ser um deus numa Ilha de Creta.
Porém não foi nesses lugares todos
que tive a graça de enxergar o sol...
Foi num lugar aonde o arrebol
é mais intenso do que nos demais
foi entre os campos mais meridionais,
num catre simples, junto aos pajonais
deste Brasil, que nos ufana tanto...
Foi neste canto, onde o desencanto
não tem mais força do que a nossa fé.
Onde um igual pode ser o que é,
sem falsos lumes e luzeiros tolos.
É um lugar abençoado e livre...
É uma Querência que, por graça, tive,
pra dar alento ao meu primeiro choro.
É um pedaço do Brasil Sulino
que, por capricho do Jesus Menino,
deu-me à luz e me acolheu em coro.
É aqui que achei a minha companheira,
é aqui que vivo e que criei raiz,
é aqui que tento amar e ser feliz,
é aqui que crio os filhos para o mundo.
É aqui que nutro o amor mais profundo
pelos amigos, que adornam a vida,
e que um dia irão me dar guarida
quando eu me for para não mais voltar.
Eu poderia ter nascido longe,
às margens quentes de um Rio Ganges,
entre as geladas terras da Sibéria,
sob os silentes montes do Himalaia
ou nas áridas estepes da Nigéria.
Eu poderia ter virado gente
no Deserto do Atacama, com seu tédio,
ou nos confins da Grande Cordilheira.
Às margens tristes do Danúbio Azul,
junto aos conflitos da África do Sul,
em meio às guerras do Oriente Médio.
Porém o Grande Arquiteto do Universo
quis que eu nascesse - pronto para o verso -
neste torrão que tanto amo e canto...
quis que eu brotasse, como por encanto,
num pastiçal de trevos e flexilhas,
sentindo o aroma forte das coxilhas
da Pampa “Gaucha”, sem patrão nem doma...
Onde o Minuano, por bagual reclama,
com uivos fortes seu melhor quinhão.
Onde cultuamos a seiva mais pura,
onde podemos buscar nossas curas,
nos abraçarmos com toda a ternura
e onde podemos nos chamar de irmãos.
Eu poderia ter nascido longe,
entre as Rochosas dos Americanos.
Nos ricos castelos dos Romanos,
ou entre os nobres da Era Feudal.
Eu poderia ser condecorado
tal qual um conde, após ter voltado
de uma Cruzada do "Bem" contra o "Mal".
Talvez pudesse ter sido aleitado
Em berço d’ouro, ou ser um soldado
das hostes bravas de um Gengis Kam.
Talvez pudesse ter sido ungido
por sacerdotes do Antigo Egito...
Ou ser um líder, sem baixar a crista,
ser um guerreiro, ao qual bastasse um grito
pra ser seguido na maior conquista.
Eu poderia ter nascido longe...
Em qualquer canto do nosso planeta,
pois quem escolhe qual será o gameta
que vai gerar a nossa frágil vida?
Qual o lugar desta terra sofrida
e tantas quantas razões escondidas
regem as rédeas do nosso destino?
Mas foi aqui, com respeito à raça,
foi neste chão que Deus me deu a graça
de me encontrar, qual um torcaz que passa,
reconhecendo as plagas de onde vim...
É aqui que sonho em construir meu mundo,
é aqui que eu quero me plantar bem fundo
quando chegar a hora do meu fim!
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